sexta-feira, 24 de julho de 2009

A vida heroica

A diferença entre a nossa e a vida do herói é que a deste se alonga na eternidade do tempo. Ele se eterniza porque sua jornada ou história é partilhada por muitas memórias e atravessam muitas gerações. Por isso está além do tempo. Quanto a você e eu, não acumulamos esse poder nessa escala. No entanto, acredite, tampouco nos anulamos: também acumulamos numa espécie de moeda do tempo - pois temos uma história ou jornada pessoal, ainda que não tão fatal nem tão fantástica quanto a do herói. Mas que é absolutamente reconhecível. E absolutamente sólida, real. Porém aqui é preciso certa qualificação, pois, feliz ou infelizmente, as histórias pessoais não aparecem previamente dadas, determinadas. Mas é que, se assim fosse, simplesmente...não haveria heróis! O paradigma do herói nunca é antecipado, ele se reconhece sempre numa posteridade. E nisto vamos nos assemelhar a ele, você e eu.

Temos (ou não) um pequeno problema aqui. O que o herói acumula na memória dos outros - e você, intuitivamente, talvez saiba disso - depende da escala dos perigos que ele enfrenta. Por um motivo muito singelo: não existem recompensas gratuitas. Contudo, veja só, os vilões bem que acreditam que assim possa ser. E muitos de nós também. E daí as repetidas decepções e erros de cálculo; daí também a infelicidade e a falta de sentido (o herói acumula também sentidos que são elaborados e constituídos ao longo de sua jornada).

Por fim, haverá quem não queira ser herói -quer dizer, iniciar ou percorrer sua jornada pessoal. Haverá quem não queira construir / constituir sua narrativa heroica, pois o que se acumula na memória é exatamente uma narrativa, uma história, e os atributos que lhe dão estofo, forma e significado...

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