sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O touro e a besta humana

Na tauromaquia, o touro talvez pressinta que será aniquilado não importa a bravura bde sua atuação: as adagas que lhe vão sendo estocadas servem exatamente para minar-lhe as energias de modo premeditado, para que sua bravura decaia rapidamente em fraqueza e humilhação. Dá-se-lhe apenas a saída cinicamente armada (pois o touro nunca é inteligente o bastante para não se deixar levar pela provocação) de poder atacar. É o ataque que o faz entrar num jogo cujas regras / signos são dominados e inteligíveis apenas para humanos. Mas é que, sendo a aniquilação o seu fim, que lhe resta senão o ataque? Afinal, a natureza de um touro, se não é velada pela razão, tampouco o é pela covardia. Por outras palavras, na tourada morre o touro por causa de sua bravura...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Coisas do Oriente

O pensamento oriental espelha a linguagem introspectiva por excelência. Uma linguagem preponderantemente não-agressiva. Diferente da linguagem ocidental, que é basicamente agressiva. Uma linguagem agressiva reflete um espírito agressivo e, claro, 'extrovertido'. Essa extroversão caracteriza e define uma maneira muito específica de agir sobre o mundo. Enquanto a introversão oriental privilegia a convivência e o equilíbrio, a extroversão ocidental anseia pela conquista e o controle. Trata-se duma oposição bem definida, onde uma rede muito tênue tenta estabelecer ações de contato ou interação. Acontece que um pensamento tão fortemente extrovertido carece de um contra-peso, alguma forma de contenção de seu virulento ativismo...

Além do desconhecido

Há sabedoria (sentido) nesse longínquo (às vezes inencontrável) lugar a que você é conduzido pelo tempo (às vezes à força, como que simplesmente empurrado)? Dizem os 'entendidos' que sim. Que essa é a meta suprema. Então, seu verdadeiro encontro não é com o outro, jamais - senão com o mesmo - que é você; e que você há de encontrar se continuar caminhando, percorrendo paisagens, ambientes esquisitos, assustadores - paisagens e ambientes que podem muito bem contaminar, afetar, infestar, mutilar, marcar, perturbar quase além da conta, também machucar quase além da conta seus sentimentos e sentidos - por vezes os dois simultaneamente; ou um mais que o outro, ou um e nunca o outro. Mas cuidado: a morte pode tragar-lhe esse encontro. Será por isso que ela - na inquieta imaginação das antecipações - nos deixa tão eternemente apreensivos?